exposição
DE PASSAGEM
A exposição “De passagem" desembarca em Guaianases, bairro periférico muito conhecido da ZL paulistana, sob o olhar de um jovem que cresceu ali e se reconheceu como criador urbano, trazendo seu olhar sobre o cotidiano dos cidadãos que transformam a região criando uma identidade cultural muito marcante. O bairro dormitório, que para muitos é assim visto, também carrega em suas entre linhas histórias de superação, motivação, ação e reação. Uma mostra elaborada com materiais encontrados nas ruas do bairro, onde sobras se transformam em obras valorizando o aproveitamento de oportunidades, assim como é nessa quebrada.
Nascido em Itaquera e morador de Guaianases, desde pequeno Ítalo já se desenvolvia através de rabiscos e formas no papel. Seu interesse por desenho foi se lapidando a cada ano que se passava em sua vida e, chegando em 2008 já próximo a concluir o ensino médio, foi motivado a participar de uma oficina de graffiti, ali mesmo em seu bairro, foi ai que sua trajetória na arte urbana teve início.
Atuando mais na zona leste de São Paulo, de Guaianases a Ermelino Matarazzo, foi explorando com outro olhar sua cidade e conquistando novos espaços, Ítalo integrou o coletivo "Muros que Gritam..." uma galera que se reuniu para tornar seus pensamentos críticos sobre educação e política em murais pela ZL. Além de seu trabalho artístico, Italo também deu oficinas de graffiti, transmitindo a outros jovens o conhecimento que a arte lhe proporcionou.


Segunda feira, 2021
Técnica: acrílica e spray sobre tela
Tamanho 50x40cm
Então, depois de um final de semana curtindo o fluxo no bairro ou dando um rolê pelo centro, o desejo de permanecer na cama recarregando as energias, é levado, empurrado, espremido por outros iguais.
Não há dúvida de que, Guaianases também sempre será lembrado em noticiários quando o assunto é transporte coletivo lotado. Os trens saem carregados de gente crente na sobrevivência trazida dos grandes centros, e trazida de volta no mesmo aperto.

Jornada, 2021
Técnica: acrílica e spray sobre
madeirite c/ moldura
Tamanho 82,5x62,5cm
Durante minha vida, cresci, vi e vivi a realidade de sair no fim da madrugada do dia e chegar tarde da noite. Assim é o movimento do povo que tem como berço essa quebrada querida e comentada bem ou mal por muitos.
O trabalho sai dessa terra para outras, mas o sonho está sempre em casa.
Retrato da trajetória quase que diária em sua totalidade, pois algum dia da semana o trabalhador para no mercado, supermercado ou mercadinho da vila para comprar suprimento, abastecendo seu restante de noite e se colocando pronto pra sair novamente antes da lua ir se deitar.

Várzea, 2021
Técnica: acrílica e spray sobre tela
Tamanho 72x62cm
O futebol sempre esteve presente nas quebradas, e na infância, o exercício físico mais cotado pela molecadinha. Além disso, esticar o pescoço para o alto e observar os helicópteros carregados, vigiando e contra-atacando a comunidade, defendendo, quem sabe? Um hábito comum sem arbitragem.
A violência, seja do tráfico ou policial sempre rondou o bairro em condições diversas, pesadas ou menos pesadas. Essa obra traz um olhar duvidoso sobre o que é ter tranquilidade no lugar onde vivemos.

Fortaleza, 2021
Técnica: misto sobre piso cerâmica
Tamanho 70x80cm
Levantar cedo,
levantar carreira,
tijolo por tijolos,
e quando a noite cai
uma fração da obra está pronta,
mas não tão firme a ponto
de aguentar qualquer baque.
Meu pai construiu sua casa, casas, sobrados, e prédios.
O sonho numa comunidade como essa é correr atrás do ganha pão e se erguer.
A vida corrida das pessoas em Guaianases, as obrigam a formularem seus próprios projetos arquitetônicos de vida, trabalhando para construir ou trabalhar construindo para os outros.

Reflexão, 2018
Técnica: misto sobre chapa metálica
Tamanho 65x65cm
Aurora, jardim vizinho ao jardim moreno.
Minha quebrada, lugar de paz e tranquilidade no conforto do lar, quem dera. Onde a amizade fez escola, e pelos caminhos suas bifurcações, o cotidiano fazendo história.
A infância marcante, diferente da maturidade, onde antes a conversa na calçada, a bola na quadra, as festinhas de aniversário, eram nossas maiores preocupações.
Hoje, o olhar pro passado revela estruturais detalhes, mas o lugar não mudou tanto com alguns andares a mais de casas. A luta diária continua e a preocupação agora é saber que a nova geração não mais irá se trombar pra trocar figurinhas.